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terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Mitologia Grega
Características da Mitologia Grega, principais mitos e lendas, deuses gregos, Minotauro, Medusa, Hércules, a influência da religião na vida política, econômica e social dos gregos

A Mitologia Helênica é uma das mais geniais concepções que a humanidade produziu. Os gregos, com sua fantasia, povoaram o céu e a terra, os mares e o mundo subterrâneo de Divindades Principais e Secundárias. Amantes da ordem, instauraram uma precisa categoria intermediária para os Semideuses e Heróis.
A Mitologia Grega apresenta-se como uma transposição da vida em zonas ideais. Superando o tempo, ela ainda se conserva com toda a sua serenidade, equilíbrio e alegria. A religião grega teve uma influência tão duradoura, ampla e incisiva, que vigorou da pré-história ao século IV e muitos dos seus elementos sobreviveram nos Cultos Cristãos e nas tradições locais. Complexo de crenças e práticas que constituíram as relações dos gregos antigos com seus deuses, a religião grega influenciou todo o Mediterrâneo e áreas adjacentes durante mais de um milênio.
Os gregos antigos adotavam o Politeísmo Antropomórfico, ou seja, vários deuses, todos com formas e atributos humanos. Religião muito diversificada, acolhia entre seus fiéis desde os que alimentavam poucas esperanças em uma vida paradisíaca além túmulo, como os heróis de Homero, até os que, como Platão, acreditavam no julgamento após a morte, quando os justos seriam separados dos ímpios. Abarcava assim entre seus fiéis desde a ingênua piedade dos camponeses até as requintadas especulações dos Filósofos, e tanto comportava os excessos orgiásticos do culto de Dioniso como a rigorosa ascese dos que buscavam a purificação.
No período compreendido entre as primeiras incursões dos povos helênicos de origem Indo-européia na Grécia, no início do segundo milênio a. C., até o fechamento das escolas pagãs pelo imperador bizantino Justinianus, no ano 529 da era cristã, transcorreram cerca de 25 séculos de influências e transformações.
Os primeiros dados existentes sobre a religião grega são as Lendas Homéricas, do século VIII a. C., mas é possível rastrear a evolução de crenças antecedentes.
Quando os indo-europeus chegaram à Grécia, já traziam suas próprias crenças e deuses, entre eles Zeus, protetor dos clãs guerreiros e senhor dos estados atmosféricos. Também assimilaram cultos dos habitantes originais da península, os Pelasgos, como o oráculo de Dodona, os deuses dos rios e dos ventos e Deméter, a deusa de cabeça de cavalo que encarnava o ciclo da vegetação.
Depois de se fixarem em Micenas, os gregos entraram em contato com a civilização cretense e com outras civilizações mediterrâneas, das quais herdaram principalmente as divindades femininas como Hera, que passou a ser a esposa de Zeus; Atena, sua filha; e Ártemis, irmã gêmea de Apolo. O início da filosofia grega, no século VI a.C., trouxe uma reflexão sobre as crenças e mitos do povo grego.
Alguns pensadores, como Heráclito, os Sofistas e Aristófanes, encontraram na mitologia motivo de ironia e zombaria. Outros, como Platão e Aristóteles, prescindiram dos deuses do Olimpo para desenvolver uma idéia filosoficamente depurada sobre a divindade.
Enquanto isso, o culto público, a religião oficial, alcançava seu momento mais glorioso, em que teve como símbolo o Pártenon ateniense, mandado construir por Péricles.
A religiosidade popular evidenciava-se nos festejos tradicionais, em geral de origem camponesa, ainda que remoçada com novos nomes.
Os camponeses cultuavam Pã, deus dos rebanhos, cuja flauta mágica os pastores tentavam imitar; as ninfas, que protegiam suas casas; e as nereidas, divindades marinhas.
As conquistas de Alexandre o Grande facilitaram o intercâmbio entre as respectivas mitologias, de vencedores e vencidos, ainda que fossem influências de caráter mais cultural que autenticamente religioso. Assim é que foram incorporadas à religião helênica a deusa frígia Cibele e os deuses egípcios Ísis e Serápis.
Pode-se dizer que o sincretismo, ou fusão pacífica das diversas religiões, foi a característica dominante do período Helenístico.
Fonte: www.nomismatike.hpg.ig.com.br

A mitologia grega desenvolveu-se plenamente por volta do ano 700 a.C.
Nessa data já existiam três coleções clássicas de mitos: a Teogonia, do poeta Hesíodo, e a Ilíada e a Odisséia, do poeta Homero.

A mitologia grega possui várias características específicas e era uma religião politeísta e que não possuía um código escrito, ou seja, um livro sagrado.
Os deuses gregos tinham forma humana (antropomórfica) e ainda possuíam sentimentos humanos, como o amor, o ódio, etc. Alguns deuses viviam no alto do Monte Olimpo, numa região da Grécia conhecida por Tessália.

No Olimpo, os deuses formavam uma sociedade organizada no que diz respeito a autoridade e poder, movimentavam-se com total liberdade e formavam três grupos que controlavam o universo conhecido: o céu ou firmamento, o mar e a terra.

Na mitologia grega existiam doze principais deuses, que eram conhecidos como Olímpicos, eram:
  • Zeus (era pai espiritual dos deuses e das pessoas),  
  • Hera (esposa de Zeus e deusa que protegia casamentos),  
  • Atena (deusa da sabedoria e da guerra),  
  • Hefesto (deus do fogo e da artes manuais),
  • Apolo (deus da luz, da poesia e da música),  
  • Ares (deus da guerra), 
  • Ártemis (deusa da caça), 
  • Héstia (deusa do coração e da chama sagrada), 
  • Afrodite (deusa do amor e da beleza), 
  • Poseidon (deus do mar), 
  • Hermes (mensageiro dos deuses e deus das ciências e das invenções) 
  • Deméter (deusa da agricultura). 
  • Hades (deus dos mortos), que não era considerado um Olímpico, era um deus muito importante. 
  • Dionísio (deus do vinho e do prazer) era muito popular e em algumas regiões chegou a ser tão importante quanto Zeus.
Os deuses gregos assemelham-se exteriormente aos seres humanos e apresentam, ainda, sentimentos humanos. A diferença em relação a outras religiões antigas, como o hinduísmo ou o judaísmo, consiste em não incluir revelações ou ensinamentos espirituais.
Práticas e crenças também variam amplamente, sem uma estrutura formal, como uma instituição religiosa de governo, nem um código escrito, como um livro sagrado.
Os gregos acreditavam que os deuses tinham escolhido o monte Olimpo, em uma região da Grécia chamada Tessália, como sua residência. 

 A mitologia grega enfatizava o contraste entre as fraquezas dos seres humanos e as grandes e aterradoras forças da natureza.
O povo grego reconhecia que suas vidas dependiam completamente da vontade dos deuses. Em geral, as relações entre os humanos e os deuses eram amigáveis.
Porém, os deuses aplicavam severos castigos aos mortais que revelassem conduta inaceitável, como orgulho complacente, ambição extrema ou prosperidade excessiva.


Entendendo a Mitologia Grega. 
Os gregos antigos enxergavam vida em quase tudo que os cercavam, e buscavam explicações para tudo. A imaginação fértil deste povo criou personagens e figuras mitológicas das mais diversas. Heróis, deuses, ninfas, titãs e centauros habitavam o mundo material, influenciando em suas vidas. Bastava ler os sinais da natureza, para conseguir atingir seus objetivos. A pitonisa, espécie de sacerdotisa, era uma importante personagem neste contexto. Os gregos a consultavam em seus oráculos para saber sobre as coisas que estavam acontecendo e também sobre o futuro. Quase sempre, a pitonisa buscava explicações mitológicas para tais acontecimentos. Agradar uma divindade era condição fundamental para atingir bons resultados na vida material. Um trabalhador do comércio, por exemplo, deveria deixar o deus Hermes sempre satisfeito, para conseguir bons resultados em seu trabalho.

Os principais seres mitológicos da Grécia Antiga eram :
  • - Heróis : seres mortais, filhos de deuses com seres humanos. Exemplos: Herácles ou Hércules e Aquiles.
  • - Ninfas : seres femininos que habitavam os campos e bosques, levando alegria e felicidade.
  • - Sátiros : figura com corpo de homem, chifres e patas de bode.
  • - Centauros : corpo formado por uma metade de homem e outra de cavalo.
  • - Sereias : mulheres com metade do corpo de peixe, atraíam os marinheiros com seus cantos atraentes.
  • - Górgonas : mulheres, espécies de monstros, com cabelos de serpentes. Exemplo: Medusa
  • - Quimera : mistura de leão e cabra que soltava fogo pelas ventas. 
  • -Medusa: mulher com serpentes na cabeça
  • - O Minotauro 
É um dos mitos mais conhecidos e já foi tema de filmes, desenhos animados, peças de teatro, jogos etc. Esse monstro tinha corpo de homem e cabeça de touro. Forte e feroz, habitava um labirinto na ilha de Creta. Alimentava-se de sete rapazes e sete moças gregas, que deveriam ser enviadas pelo rei Egeu ao Rei Minos, que os enviavam ao labirinto. Muitos gregos tentaram matar o minotauro, porém acabavam se perdendo no labirinto ou mortos pelo monstro.
Certo dia, o rei Egeu resolveu enviar para a ilha de Creta seu filho, Teseu, que deveria matar o minotauro. Teseu recebeu da filha do rei de Creta, Ariadne, um novelo de lã e uma espada. O herói entrou no labirinto, matou o Minotauro com um golpe de espada e saiu usando o fio de lã que havia marcado todo o caminho percorrido.


 Cosmogonia

Seres Primordiais e o 1º Reinado, Glória de Urano
No princípio era o Caos (Vazio primordial, vale profundo, espaço incomensurável), matéria eterna, informe, rudimentar, mas dotada de energia prolífica; depois veio Géia (Terra), Tártaro (habitação profunda) e Eros (o Amor), a força do desejo. O Caos deu origem ao Érebo (Escuridão profunda) e a Nix (noite). Nix Gerou Éter e Hemera (Dia). De Géia nasceram Úrano (Céu), Montes e Pontos (Mar).
Na primeira fase há nítido predomínio do mundo Ctônio, já que a cosmogonia Hesiódica se desenvolve ciclicamente de baixo para cima, das trevas para a luz.
O Primeiro reinado conhecido do universo foi o de Úrano (Céu). À fase da energia prolífica segue-se a primeira geração divina, em que Úrano (Céu) se une a Géia (Terra), de onde descendem numerosa descendência. Nasceram primeiro os Titãs e depois as Titânidas, sendo Crono o caçula.

Titãs: Oceano, Ceos, Crio, Hiperión, Jápeto e Crono.
Titânidas: Téia, Réia, Mnemósina, Febe e Tétis.

Após os Titãs e Titânidas, Urano e Geia geraram os Ciclopes e os Hecatonquiros (Monstros de cem braços e de cinqüenta cabeças).
Urano é a personalização do Céu, enquanto elemento fecundador de Geia. Urano Céu era concebido como um hemisfério, a abóbada celeste, que cobria a terra, concebida como esférica, mas achatada: entre ambos se interpunham o Éter e o Ar e, nas profundezas de Geia, localizava-se o Tártaro, bem a baixo do próprio Hades. Do ponto de vista simbólico, o deus do céu traduz uma proliferação criadora desmedida e indiferenciada, cuja abundância acaba por destruir o que foi gerado. Urano caracteriza assim a fase inicial de qualquer ação, com alternância de exaltação e depressão, de impulso e queda, de vida e morte dos projetos.
Por solicitação de Geia, Crono mutila seu pai Urano, contando-lhe os testículos. Do Sangue de Urano que caiu sobre Geia nasceram, "no decurso dos anos", as Erínias, os Gigantes e as Ninfas dos Freixos, chamadas Mélias ou Melíades; da parte que caiu no mar e formou uma espumarada nasceu Afrodite.

2º Reinado, Glória de Crono

Numa era muito antiga - tão antiga que antes dela só havia o caos - o mundo era governado por Urano (O Céu), filho da Terra. Um dia este, unindo-se à própria mãe, gerou uma raça de seres prodigiosos, chamados Titãs. Ocorre que o Céu - Deus todo poderoso e nem um pouco clemente - irritou-se, certa feita, com as afrontas que imaginava receber de seus filhos. Por isto, decidiu, à medida que eles iam nascendo, encerrá-los nas profundezas do ventre da própria esposa.
- Aí ficarão para sempre, no ventre da Terra, para que nunca mais ousem desafiar a minha autoridade! - Exclamou, colericamente, o deus soberano.
A Terra subjugada, teve de segurar em suas entranhas, durante muitas eras, aquelas turbulentas criaturas e suportar, ao mesmo tempo, o assédio insaciável e ininterrupto do marido. Um dia, porém, farta de tanta tirania, decidiu a mãe do mundo que um de seus filhos deveria libertá-la deste tormento. Para tanto escolheu Crono, o mais jovem dos seus filhos, Titãs.
- Crono, meu filho, - disse Geia, levada em pranto - , somente você poderá libertar-me da tirania de seu pai e conquistar para si o mando supremo do Universo!
O Jovem ambicioso Titã sentiu um frêmito percorrer suas entranhas, - Diga mãe, o que devo fazer para livrá-la de tamanha dor! - disse Crono, disposto a tudo para chegar logo à segunda parte do plano. A Terra erguendo uma enorme foice de diamante, entregou-a ao filho. - Tome e use-a da melhor maneira que puder!, disseram seus olhos, onde errava um misto de vergonha e esperança.
Crono apanhou a foice e não hesitou um instante: dirigiu-se logo para o local onde seu velho pai descansava. Ao chegar ao azulado palácio erguido nos céus, encontrou-o ressonando sobre um grande leito acolchoado de nuvens.
- Dorme o tirano, sussurrou baixinho.
Crono, depois de examinar por algum tempo o rosto do impiedoso deus, empunhou a foice e pensou consigo mesmo: - Realmente, demasiado soturno. E fez descer o terrível gume, logo abaixo da cintura do pobre Urano. Um grito terrível, como jamais se ouvira em todo o Universo, ecoou na abóbada celeste, despertando toda a criação.
- Quem ousou levantar a mão ímpia contra o soberano do mundo? - gritou o céu, com as mãos postas sobre a ensangüentada virilha.
- Isto é pelos tormentos que infringiu à minha mãe, bem como a mm e a meus irmãos - respondeu Crono, ainda a brandir a foice manchada de sangue. Os Testículos de Urano, arrancados pelo golpe certeiro da foice, voaram longe e foram cair no oceano, com um baque tremendo. Em seguida, o deus ferido, caiu, exangue, sobre seu leito acolchoado, sem poder dizer mais nada. As nuvens que lhe serviam de leito tingiram-se de um vermelho tal que durante o dia inteiro houve como que um infinito e escarlate crepúsculo.
Crono, eufórico, foi logo contar a proeza à sua mãe: - Isto é que é filho - Disse Geia, abraçada ao jovem parricida. Imediatamente foram soltos todos os outros Titãs, irmãos de Crono. Este, por sua vez recebeu a sua recompensa: Era agora o senhor inconteste de todo o universo.
Quanto a noite caiu, entretanto, escutou-se uma voz espectral descer da grande côncava dos céus: - Ai de você, rebento infame, que manchou a mão no sangue do seu próprio pai! Do mesmo modo que usurpou o mando supremo, irá também um dia perdê-lo...
Crono assustou-se a princípio, mas em seguida ordenou a seus pares que recomeçassem os festejos.
- Ora, ameaçazinhas... Deus morto, deus posto! - exclamou, com um riso talhado no rosto. Mas aquela profecia, irritante como um mosquito, ficara ecoando na sua mente, até que Crono, por fim, reconheceu também meio soturno: - Será que minha vitória, neste mundo, não pode ser nunca completa?.
Depois que se tornou senhor do mundo, Crono converteu-se num tirano pior que seu pai Urano. Não se contentou em lançar no Tártaro seus irmãos, os Ciclopes e os Hecatonquiros, porque os temia, mas, após a admoestação de Urano e Geia de que seria destronado por um dos seus filhos, passou a engolí-los, tão logo nasciam.

O 3º Reinado, Glória de Zeus

Titanomaquia: A Guerra dos Titãs - Não há crônica, antiga ou moderna, que refira de maneira exata todos os feitos e lances heróicos desta que foi a verdadeira primeira guerra mundial. Ela é demasiado antiga e perde-se na noite dos tempos. Só podemos nos basear no que dela referiram alguns comentadores tardios, como Hesíodo.
Ainda sim ela houve: os sinais, por tudo, são demais evidentes. A própria geologia comprova que as extintas divindades de outrora - personificações, talvez, dos elementos em estado caótico - se engalfinharam um dia numa luta impiedosa, revolvendo no embate o Céu, a Terra e os mares.
Esta gigantesca querela teve início com a pretensão de um filho rebelde, chamado Zeus, sobre o poder supremo que estava em mãos de uma divindade cruel e despótica, chamada Crono. Mas quem foram as partes deste espantoso embate? De um lado, liderados por Crono, estavam ele e seus irmãos, os poderosos Titãs "filhos da Terra". Do outro, Zeus, o filho insubmisso, e seus irmãos, além de algumas defecções titânicas que se alistaram à causa rebelde, tais como o Oceano e o filho de Japeto, Prometeu.
Os Deuses da segunda geração, liderados por Zeus, foram organizar seu ataque no monte Olimpo (daí serem chamados de "deuses olímpicos"), enquanto os Titãs, abrigados no monto Ótris, tramavam a sua defesa. Numa dia incerto, que nenhum calcula humano pode aproximar, deu-se o primeiro lance desta refrega colossal, que os anais bélicos da humanidade batizaram de Titanomaquia ou "Guerra dos Titãs". Uma imensa massa negra de nuvens destacou-se dos limites extremos do Olimpo e começou a marchar, num estrondo feroz de carros de guerra que rondam pelos céus. O empíreo escureceu de tal forma que o Caos parecia haver gerado de seu ventre uma segunda noite, ainda mais negra e tétrica do que a primeira.
De dentro desta montanha alada, da cor do ferro, partiam raios tão ofuscantes (novidade horripilante inventada pelos Ciclopes, aliados de Zeus, que este libertara do Tártaro), que por alguns instantes brevíssimos não havia em todo o Universo a menor parcela de escuridão. Mas logo o negror da noite tombava outra vez sobre a Terra, e a alma de tudo quanto vivia agachava-se, oprimida por indizível pavor.
Ocultos acima dessa nuvem prodigiosa, Zeus, e seus aliados caíram finalmente sobre seus inimigos. Os Titãs, contudo, bem protegidos em suas trincheiras, começaram a enterrar suas unhas duras e compridas como gigantescas pás de bronze até as profundezas do solo, para dali arrancarem pela raiz, com pavoroso estrondo, montanhas inteiras, que arremessavam em seguida contra os deuses olímpicos.
Uma voz espantosa ecoou, vinda do alto, sobrepondo-se à massa inteira de ruídos:
- Irmãos da nobre causa, desçamos até onde rastejam estes vermes! - Disse Zeus e, junto com seus aliados, saltou das nuvens com as vestes guerreiras, dando grandes brados de fúria. Seus escudos refulgiam na queda como tremendos sóis prateados, enquanto suas lanças, brandidas com fúria, pareciam a raios retilíneos que cada qual portasse com destemor infinito.
- Amantes da nobre verdade, recebamos estas aves de rapina que descem dos céus, tal como elas merecem! - bradou outra voz, desta vez de Crono, encorajando os seus Titãs.
Quando os depois exércitos se misturaram, um ruído mais feroz do que qualquer outro jamais escutado fez-se ouvir, então, por todo Universo. A terra inteira sacudia-se em tremores, levantando-se de dentro dela imensas labaredas de fogo e de pez. Posídon, com seu tridente aceso, fazia ferver os mares, e por toda parte não havia um único bosque que não tivesse sido varrido pelo assobio endemoniado de uma tórrida ventania.
Os combatentes, misturados num pavoroso atraque corporal - atirando às cegas, uns contra os outros, cutiladas, raios, rochas imensas, vapores sufocantes e dentadas -, assim estiveram por uma eternidade, até que Zeus, temendo que a vitória estivesse pendendo para o inimigo, anunciou um novo propósito:
- Companheiros, libertemos do Tártaro profundo os poderosos Hecatônquiros! - Hecatônquiros. Esses Terríveis seres haviam sido aprisionados por Crono nas profundezas da terra e, uma vez libertos, espalhariam o terror entre as hostes inimigas.
Zeus, auxiliado pelos seus, desceu até as tênebras profundas e, após romper com os grilhões que mantinham estas colossais criaturas presas ao abismo, subiu com elas à superfície. Uma fenda enorme rasgou-se sob o chão; imediatamente um vapor negro subiu da cratera num jato hediondo, até envolver o próprio sol. tudo estava envolto numa treva sufocante, quando todos sentiram um baque formidável sacudir o solo. Um tufão poderoso surgiu em seguida, varrendo fora a fuligem espessa e deixando à mostra, sobre a superfície, os três Hecatônquiros, postados lado a lado. A arte dos antigos não nos deixou nenhuma imagem do que seriam tais divindades, porém as descrições nos afirmam que se tratavam de seres "enormes como a amais alta das montanhas" e que possuíam "cem olhos e cinqüenta cabeças".
Um urro colossal, partido das cento e cinqüenta bocas, atroou todo o Universo. As criaturas, empunhando rochedos imensos, lançaram sobre os apavorados Titãs trezentas montanhas, sepultando-os vivos sob os escombros. Em seguida os Ciclopes os acorrentaram com suas pesadas correntes, encerrando-os para sempre nas profundezas do Tártaro, de onde jamais tornariam a sair, vigiados pelos invencíveis Hecatônquiros.
Esta, em resumo, foi a primeira batalha que o Universo conheceu, e da qual saiu vitorioso Zeus, o novo soberano do Universo, para reinar como pai dos deuses sobre todos os homens e as demais divindades.
Terminada a refrega, os três grandes deuses receberam por sorteio seus respectivos domínios: Zeus obteve o Céu; Posídon,o mar; Hades Plutão, o mundo subterrâneo ou Hades, ficando, porém, Zeus com a supremacia do Universo.

Gigantomaquia: A Guerra dos Gigantes - Geia, ficou profundamente irritada contra os Olímpicos por lhe terem lançado os filhos, os Titãs, no Tártaro, e excitou contra os vencedores os terríveis Gigantes, nascidos do sangue de Urano caído na terra ao ser castrado por Crono.
Os Gigantes foram gerados por Geia para vingar os Titãs, que Zeus havia lançado no Tártaro. Eram seres imensos, prodigiosamente fortes, de espessa cabeleira e barba hirsuta, o corpo horrendo, cujas pernas tinham a forma de serpente. Tão logo nasceram, começaram a jogar para o céu árvores inflamadas e rochedos imensos. Os deuses prepararam-se para o combate. A princípio lutavam somente Zeus e Palas Atena, armados com a égide, o raio e a lança. Já que os Gigantes só podiam ser mortos por um deus com o auxílio de um mortal, Héracles passou a tomar parte no combate. Apareceu também Dionísio, armado com um tirso e tochas, e secundado pelos Sátiros. Aos poucos o mito se enriqueceu e surgiram outros deuses que vieram em socorro de Zeus.
Os mitógrafos destacam nessa luta treze Gigantes, embora seu número tenha sido muito maior. Alcione foi morto por Héracles, auxiliado por Atena, que aconselhou o herói arrastá-lo para longe de Palene, sua cidade natal, porque, cada vez que o Gigante caía recobrava as forças, por tocar a terra, de onde havia saído.
Porfírio atacou a Héracles e Hera, mas Zeus inspirou-lhe um desejo ardente por esta e enquanto o monstro tentava arrancar-lhe as vestes, Zeus o fulminou com um raio e Héracles acabou com ele a flechadas. Efialtes foi morto por uma flecha de Apolo no olho esquerdo e por uma outra de Héracles no direito. Êurito foi eliminado por Dionísio, com um golpe de tirso; Hécate acabou com Clício a golpes de tocha; Mimas foi liquidado por Hefesto, com ferro em brasa. Encélado fugiu, mas Atena jogou em cima dele a ilha de Sicília; a mesma Atena escorchou a Palas e se serviu da pele do mesmo, como uma couraça, até o fim da luta. Polibotes foi perseguido por Posídon através das ondas do mar até a ilha de Cós. O deus, enfurecido quebrou um pedaço da ilha de Nisiro e lançou-o sobre o Gigante, esmagando-o. Hermes usando o capacete de Hades, que o tornava invisível, matou Hipólito, enquanto Artemis liquidava Grátion. As Moiras mataram Ágrio e Toas. Zeus, com seus raios, fulminou os restantes e Héracles acabou de liquidá-los a flechadas.
A Gigantomaquia quer dizer, a luta dos Gigantes, foi travada na Trácia, segunda uns, segundo outros na Arcádia, às margens do rio Alfeu.
Seres ctônios, os Gigantes simbolizam o predomínio das forças nascidas da Terra, por seu gigantismo material e indigência espiritual. Imagem da Hýbris, do descomedimento, em proveito dos instintos físicos e brutais, renovam a luta dos Titãs. Não podiam ser vencidos, como se viu, a não ser pela conjugação de forças de um deus e de um mortal. O próprio Zeus necessita de Héracles, ainda não imortalizado, para liquidar Porfírio; Efialtes foi morto por Apolo e Héracles. Todos os Olímpicos, adversários dos Titãs, Atena, Hera, Dionisio, Posídon... deixam sempre ao mortal a tarefa de acabar com o monstro. A idéia parece clara: na luta contra a "bestialidade terrestre", Deus tem necessidade do homem tanto quanto esse precisa de Deus. A evolução da vida para uma espiritualização crescente e progressiva é o verdadeiro combate dos gigantes. Esta evidência implica, todavia, num esforço do alto, para triunfar das tendências involutivas e regressivas ao heroísmo humano. O Gigante representa tudo quanto o homem terá que vencer para liberar e fazer desabrochar sua personalidade.

Tifão, a última prova de Zeus - Geia, num esforço derradeiro, uniu-se a Tártaro, e gerou o mais horrendo e terrível dos monstros, Tifão ou Tifeu.
 Tifão era um meio-termo entre um ser humano e uma fera terrível e medonha. Em altura e força excedia a todos os outros filhos e descendentes de Geia. Era mais alto que as montanhas e sua cabeça tocava as estrelas. Quando abria os braços, uma das mãos tocava o Oriente e a outra o Ocidente e em lugar de dedos possuía cem cabeças de dragões. Hesíodo ainda é mais preciso:
De suas espáduas emergiam cem cabeças de serpentes, de um pavoroso dragão, dardejando línguas enegrecidas; de seus olhos, sob as sobrancelhas, se desprendiam clarões de fogo...
Da cintura para baixo tinha o corpo cemadado de víboras. Era alado e seus olhos lançavam línguas de fogo. Quando os deuses viram tão horrenda criatura encaminhar-se para o Olimpo, fugiram espavoridos para o Egito, escondendo-se no deserto, tendo cada um tomado uma forma animal: Apolo metamorfoseou-se em milhafre; Hera, em um boi. Zeus e sua filha Atena foram os únicos a resistir ao monstro. O vencedor de Crono lançou contra Tifão um raio, o perseguiu e feriu com uma foice de sílex. O gigantesco filho de Geia e Tártaro fugiu para o monte Cásico, nos confins do Egito com a Arábia Petréia, onde se travou um combate corpo a corpo. Facilmente Tifão desarmou Zeus e com a foice cortou-lhe os tendões dos braços e dos pés e, colocando-o inerme e indefeso sobre os ombros, levou-o para a Cilícia e o aprisionou na gruta Corícia. Escondeu os tendões do deus numa pele de urso e os pôs sob a guarda do dragão-fêmea Delfine. Mas o deus Pã, com seus gritos que causavam pânico, e Hermes, com sua astúcia costumeira, assustaram Delfine e apossaram-se dos tendões do pai dos deuses e dos homens. Este recuperou, de imediato, suas forças, e, escalando o Céu num carro tirado por cavalos alados, recomeçou a luta, lançando contra o inimigo uma chuva de raios. O gigante refugiou-se no monte Nisa, onde as Moiras lhe ofereceram "frutos efêmeros", prometendo-lhe que aqueles lhe fariam recuperar as forças: na realidade, elas o estavam condenando a uma morte próxima.
Tifão atingiu o monte Hêmon, na Trácia, e agarrando montanhas, lançava-as contra o deus. Este, interpondo-lhes seus raios, as atirava contra o adversário, ferindo-o profundamente. As torrentes de sangue que corriam do corpo de Tifão deram nome ao monte Hêmon, uma vez que, em grego, sangue se diz (haima). O filho de Geia fugiu para a Sicília, mas Zeus o esmagou, arremessando sobre ele o monte Etna, que até hoje vomita suas chamas, traindo lá embaixo a presença do monstro: essas chamas provêm dos raios com que o novo soberano do Olimpo o abateu.

 Mitos de Criação Homérico e Órfico

Mitologia Grega - Civilização Grega - Mito da Criação Homérico - Mito da Criação Órfico - Orfismo - Réia

 Conta-se que todos os deuses e todas as criaturas vivas originaram-se da torrente com que o Oceano cerca o mundo, e que Tétis foi a mãe de todos os filhos dele.
Mas os órficos dizem que a Noite, deusa de asas negras que até mesmo Zeus reverencia, foi cortejada pelo Vento e pôs um ovo prateado no ventre da escuridão; e que Eros, também chamado Fanes, foi chocado nesse ovo e colocou o Universo em movimento. Eros tinha dois sexos e asas douradas e, por ter quatro cabeças ora rugia como um touro ou um leão, ora silvava como uma serpente ou balia como um carneiro. A Noite, que o chamava de Ericepaius e Faetonte Protogênico, vivia com ele numa caverna, exibindo-se numa tríade: Noite, Ordem e Justiça. Diante dessa caverna ficava a inescapável mãe Réia (Cibele, entre os romanos), tocando um tambor de latão para chamar a atenção do homem aos oráculos da deusa. Fanes criou a terra, o céu, o sol e a Lua, mas a deusa tripla governou o universo até seu cetro ser transferido par Urano.

 O mito de Homero é uma versão da história da criação pelasga, pois Tétis governou o mar como Eurínome, e Oceano cercou o Universo como Ofíon.
O mito órfico constitui outra versão, influenciada, porém, por uma doutrina mística tardia do amor (Eros) e por teorias sobre relações adequadas dos sexos. O ovo prateado da Noite significa a Lua, a prata sendo o metal lunar. Assim como Ericepaius "comedor de urze", o deus do amor Fanes "revelador" é uma abelha celestial com um forte zunido, filho da Grande Deusa.
A coméia foi estudada como uma república ideal e confirmou o mito da Era de Ouro, quando o mel pingava das árvores. O tambor de latão de Réia era tocado para evitar que as abelhas se enxameassem no lugar errado e para repelir influências malignas, como os rugidos de touros usados durante os Mistérios. Assim como Faetonte Protogênico "primogênito brilhante", Fanes é o Sol que os órficos transformaram em símbolo de iluminação, e suas quatro cabeças correspondem aos animais simbólicos das quatro estações. Conforme Macrobius, o oráculo de Cólofon identificou esse Fanes com o deus transcendente Iao: Zeus (carneiro), Primavera; Hélio (leão); Hades (cobra), Inverno; Dioníso (touro), Ano-Novo.
O cetro da Noite passou para Urano por ocasião do advento do patriarcado.






 

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