Deuses Gregos
Anteros
Símbolo do amor desgraçado, da resistência ao amor, da vingança ao amor não correspondido ou ao desamor.Ele é filho de Afrodite e Ares, e habita o monte Olimpo.
Anteros nasceu no Olimpo, mas foi criado na Terra entre os mortais, por um pescador. A princípio seu dever era apenas dar ordens, e os mortais o obedeciam.
Mas depois foi atribuído a ele o poder sobre a Paixão. Anteros é o deus da paixão e do sofrimento(paixão em latim, significa sofrimento, daí vem a expressão "A Paixão de Cristo"). Seus símbolos eram o arco e a flecha e a borboleta.
Apolo
Apolo, filho de Zeus e Leto, e irmão gémeo de Ártemis, deusa da caça, era um dos mais importantes e multifacetados deuses do Olimpo. Nas mitologias grega, romana e etrusca, Apolo foi identificado como o deus da luz e do sol, da verdade e da profecia, do pastoreio, do tiro com arco, da beleza, da medicina e da cura, da música, da poesia e das artes.
A partir do século III também foi identificado com Hélios,
deus do sol, pois era antes o deus da luz, e por paralelismo a sua irmã
foi identificada com Diana, a deusa da lua. Mais tarde ainda, foi
conhecido principalmente como uma divindade solar.
Sendo o patrono do Oráculo de Delfos, era o deus dos
adivinhos e profetas. Sua ligação com a Medicina se fazia pelo seu poder
de atrair pragas e a morte súbita, e também através de seu filho
Asclépios. Possuindo no mito um rebanho de gado, era o deus dos pastores
e defensor dos rebanhos e manadas. Protegia os colonos em terras
estrangeiras, liderava as Musas e era o diretor de seu coro. Recebendo
de Hermes a lira, firmou sua posição como o deus da Música, e era
homenageado com uma forma especial de hino, o peã. Finalmente, Apolo é o
deus dos jovens rapazes, ajudando na transição para a idade adulta,sendo
os rapazes que o acompanhavam "alunos" do deus na prática da pederastia.
Assim, ele é sempre representado como um jovem, frequentemente nu, para
simbolizar a pureza e a perfeição.
Apolo representa a harmonia, a moderação, a ordem e a
razão, em contraste complementar a Dionísio, o deus do êxtase e da
desordem.
Etimologia:
Era chamado pelos gregos de
Ἀπόλλων (Apóllōn) ou
Ἀπέλλων (Apellōn),
pelos romanos de Apollo e pelos etruscos de Apulu ou Aplus. A origem do
nome Apolo é incerta. Platão o associa a
ἀπόλυσις
(redimir), ἀπόλουσις
(purificação),
ἁπλοῦν (simples),
ou Ἀει-βάλλων
(o que dispara). Plutarco sugere uma relação com
ἁπλοῦν (unidade), e Hesíquio de Alexandria com απελλα
(assembléia), pelo que o tornava o deus da Política. Walter Burkert
sugere que a forma Apellai é afim de Apaliuna, um antigo deus da
Anatólia cujo nome significa pai leão ou pai luz . Mais tarde seu nome
foi ligado ao verbo απολλυμι (destruir). De Grummond o associou ao deus
hitita ou hurrita Aplu, invocado durante as pragas, derivado talvez do
babilônio Aplu Enlil, que quer dizer filho de Enlil, epíteto de Nergal,
uma outra divindade associada ao deus do sol Shamash da Babilônia
O culto
Possivelmente
o culto a Apolo chegou ao mar Egeu antes da época arcaica, entre
1100 e 800 a.C., vindo da Anatólia, embora historiadores como Burkert e
Hertel reiterem sua origem totalmente grega. Homero o cita protegendo os
troianos contra os gregos, sugerindo sua associação com o oriente. Seu
poder de atrair ou erradicar pragas o faz similar em atributos ao deus
Aplu Enlil (ou Nergal) da Babilônia e o Aplu hurrita, similitude que
reforça as etimologias orientais sugeridas.
Sua ligação com a cura advém de sua absorção do antigo deus
curador Peã (PA-JA-WO na linear B), da civilização Micênica, citado por
Homero e por Hesíodo. As funções curativas do deus Peã estavam
ligadas aos cantos de exorcismo, que mais tarde passaram a ser os hinos
laudatórios que receberam o mesmo nome, peã, entoados pelos gregos em
cultos e, pelos romanos, antes das batalhas, por ser Apolo identificado
com as vitórias após ter morto a serpente Píton.
Seu culto já estava firmemente estabelecido antes do começo
dos registros escritos na Grécia, e estava tão disseminado que diversas
cidades assumiram o nome de Apolônia, e pessoas chamadas de Apolodoro ou
Apolônio eram comuns. Seus dois santuários maiores, Delfos e Delos, eram
dos mais influentes da antiga Grécia. Também era cultuado de forma
importante em Claros e Abas. Outros santuários havia em Dídima,
Hierápolis Bambyce, Corinto, Bassae, Patara e Segesta.
Sua árvore sagrada era o loureiro. Crê-se que alguns
sacerdotes mastigavam loureiro para dizerem as profecias, outros usavam
ramos de loureiro para aspergir o templo na purificação, ou para
purificar a água com o fogo. As coroas de louro eram muitas vezes
oferecidas a alguém que tinha conseguido algo extraordinário, superando
a si mesmo, na procura da aretê, o ideal grego simbolizado por este
jovem deus. Os animais que lhe estavam associados eram o lobo, o
golfinho, o corvo, o cisne, a cigarra, o falcão, a serpente, o rato e o
grifo. A lua cheia e a nova lhe pertenciam, e os dias 7º e 20º de cada
mês, e seus festivais eram numerosos. Mais tarde fixou-se o dia 22 de
janeiro em sua homenagem.
Sua primeira vinculação com os oráculos parece ser
originada do desejo dos doentes de saber o prognóstico de seus males.
Dois de seus filhos também se tornaram patronos de oráculos: Anfiarão,
em Oropos, ao norte de Atenas, e Trofônio, situado em Lebadéia, a leste
de Delfos.
Os mitos
Apolo
nasceu de um dos amores adulterinos de Zeus. Quando Hera
descobriu a gravidez da rival Leto, proibiu-lhe que desse à luz em terra
firme, fosse no continente fosse em qualquer ilha, e colocou em seu
encalço a serpente Píton. Perambulando sem destino, Leto acabou
por chegar a Delos, uma ilha flutuante criada por Poseidon, compadecido
dos seus sofrimentos, e ali deu à luz aos seus gêmeos Apolo e Ártemis.
Depois do nascimento, Zeus fixou a ilha no fundo do mar, e mais tarde
ela foi consagrada a Apolo.
Outras versões dizem que Hera seqüestrou Ilítia, a deusa
dos partos, para impedir o nascimento, mas os outros deuses a aplacaram
oferecendo-lhe um colar de âmbar de oito metros de comprimento. Ártemis
nasceu antes, e ajudou sua mãe para o parto de Apolo. Com apenas três
dias de vida Apolo vingou sua mãe e matou Píton, esfolou-a, e com a
sua pele cobriu a trípode das pitonisas.
Sua primeira paixão foi a ninfa Corônis, que lhe deu
como filho Asclépio. Tornando-se este um mestre na arte de curar tão
poderoso que podia ressuscitar os mortos, ameaçava com isso o poder
soberano de Zeus, ultrajava Temis e roubava súditos a Hades, pelo que
foi morto pelo raio de Zeus. Para vingar-se, como não podia voltar-se
contra seu pai, Apolo matou os Cíclopes, que haviam forjado os raios, e
por isso foi castigado. Deveria ter sido desterrado para o Tártaro, mas
graças à interferência de sua mãe o castigo foi comutado em um ano de
trabalhos forçados como um mortal para o rei Admeto. Sendo bem tratado
pelo rei durante sua expiação, Apolo ajudou-o a obter Alceste e a ter
uma vida mais longa que a que o destino lhe reservara.
Durante a Guerra de Tróia, Apolo participou ao lado dos
troianos, e disseminou a peste entre os gregos em resposta a um insulto
de Agamemnon a Crises, um de seus sacerdotes cuja filha Criseida havia
sido seqüestrada. Apolo exigiu sua libertação, provocando a ira de
Aquiles. Protegeu Enéias quando este foi ferido por Diomedes e ajudou
Páris a matar Aquiles, que havia morto Troilo, filho do deus com Hécuba.
Descendência
Além de Asclépio, já citado, com Cirene teve Aristeu, com
Hécuba foi pai de Troilo, com Arsínoe teve Eriopis, e amando Creusa
gerou Íon. De Calíope gerou Lino e Orfeu; de Dríope gerou Anfiso; de
Etusa, Eleutério; de Quíon, Fílamon, e de Manto, Mopso. De mães
desconhecidas teve Cicno, Cíniras e Femónoe.
Amantes

Apolo, eterno kouros imberbe, foi o deus grego que
manteve as relações pederastas mais célebres, o que não surpreende,
sendo ele o deus da palestra, onde os jovens se reuniam para praticar
atletismo. Apolo representava para eles o educador ideal, o
erastes. Todos os seus alunos-amantes masculinos eram mais jovens que
ele, como era o hábito entre os gregos que acreditavam que a primeira
relação sexual de um jovem não poderia ser como uma mulher,pois esta
seria desprovida de inteligência.Assim,Apolo sendo o primeiro amante, o
erastes poderia passar o conhecimento aos jovens,os eromenos. Muitos
destes jovens morreram "acidentalmente", significando que estes mitos
simbolizavam ritos de passagem, quando o jovem,o efebo deveria morrer
para renascer como adulto.
Outras
histórias
Apolo recebeu a lira de Hermes, que a havia criado
com o casco de uma tartaruga e com as tripas do gado que havia roubado
de Apolo. Indignado com o furto, Apolo exigiu de Maia, mãe de Hermes,
que seu filho devolvesse o rebanho. Enquanto a discussão prosseguia,
Hermes começou a tocar a lira, que foi tão admirada por Apolo que a
recebeu de presente do irmão, e com isso perdoando-o pela artimanha.
Também de Hermes veio a syrinx, trocada pelo caduceu.
Apolo matou os filhos de Níobe, apesar de ter
tentado salvar um, Ilioneu, que havia clamado por ajuda, vingando a
ofensa que esta havia proferido contra sua mãe Leto, gabando-se de ter
muitos filhos, enquanto Leto havia tido apenas dois. Algumas versões da
lenda contam que alguns filhos foram perdoados. Orestes recebeu ordem do
Oráculo de Delfos para matar sua mãe, Clitemnestra, e seu amante,
Egisto. Mesmo sendo um decreto divino, era um crime contra seu próprio
sangue, e por isso Orestes foi duramente atormentado pelas Erínias, até
que invocou um julgamento, tendo Apolo como seu advogado, que
resultou em um empate. Então Atena pronunciou seu voto favorável,
hoje conhecido como voto de Minerva.
Quanto à música, Apolo competiu com Cíniras, seu
filho, que perdeu e cometeu por isso o suicídio. Competiu também com o
sátiro Mársias, que ao perder foi esfolado vivo como fora tratado entre
os dois e transformado pelo deus piedoso em um rio.Competira também com
Pã, quando foi juiz o rei Midas. Dando Pã como vencedor, foi punido pelo
deus do sol e da música, que lhe deu orelhas de burro.
Matou os Aloídas quando tentaram atacar o Olimpo, e
transformou o deus Cefiso, pai de Narciso em um monstro marinho.
Bibliografia
Burkert, W. Greek religion. Cambridge: Harvard University Press, 1985.
ISBN
0674362802
Graves, R. Los mitos griegos Madri: Alianza Editorial,
1955. ISBN 84-206-9814-8
Grimal, P. Diccionario de mitología griega y romana.
Barcelona: Ediciones Paidós Ibérica, 1981. ISBN 84-7509-053-2
Kerényi, K. Apollon: Studien über Antiken Religion und Humanität.
Düsseldorf:
Diederichs, 1953.
Idem.
The gods of the Greeks. Londres, Nova York: Thames & Hudson, 1951
Ares
Deus da guerra, sanguinário e agressivo, personificava a natureza brutal da guerra. Embora Ares fosse guerreiro e feroz, não era invencível, mesmo contra os mortais.
Na
Guerra de Tróia, pôs-se ao lado dos troianos, o que não importa muito,
uma vez que Ares não está preocupado com a justiça da causa que defende.
Seu prazer, seja de que lado combata, é participar da violência e do
sangue.
De
altura gigantesca, coberto com pesada armadura, com um capacete
coruscante, armado de lança e escudo, combatia normalmente à pé,
lançando gritos medonhos.
Seus
acólitos nos sangrentos campos de batalha eram: Éris, a Discórdia,
insaciável na sua fúria; Quere, com a vestimenta cheia de sangue; os
dois filhos, que tivera com Afrodite, cruéis e sanguinários, Deîmos, o
Terror, e Phóbos, o Medo e a poderosa Enio, "a devastadora". Esta última
era certamente uma divindade guerreira anterior a Ares e que por ele
foi suplantada; a ela deve o deus das lágrimas, como lhe chama Ésquilo, o
epíteto de (enyálios), "o belicoso", nome que parece estar atestado na
Linear B, sob a forma E-nu-wa-ri-jo. Mais tarde, todavia, Enio se tornou
sua filha. Seus demais filhos foram quase todos violentos ou ímpios
devotados a uma sorte funesta, com o Flégias, que tivera com Dótis. Este
Flégias era pai de Ixíon e Corônis, a mãe de Asclépio. Amante de Apolo,
Corônis o traiu, embora grávida do deus da medicina. Como Apolo, a
tivesse matado, Flégias tentou incendiar-lhe o templo de Delfos. O deus
liquidou a flechadas e lançou-lhe a psiqué no Tártaro.
Com
Pirene foi pai de três filhos: Cicno, Diomedes Trácio e Licáon. O
primeiro, violento e sanguinário, era salteador. Geralmente se postava
na estrada que conduzia a Delfos e assaltava os peregrinos que se
dirigiam ao Oráculo. Apolo, encolerizado, instigou contra ele Héracles.
Cicno foi morte e Ares avançou para vingar o filho. Atena desviou a
lança e Héracles atingiu-o na coxa, forçando-o a fugir para o Olimpo.
Diomedes Trácio, que alimentava suas éguas com carne humana, foi também
liquidado pelo filho de Alcmena. Licáon, rei dos crestônios, povo da
Macedônia, quis barrar o caminho a Héracles, quando este se dirigia ao
país das Hespérides, aonde ia buscar os pomos de ouro. Interpelado e
depois atacado por Licáon, o herói o matou.
Tereu
foi um outro de seus rebentos e seu mito prendeu-se às ilhas de
Pandíon, Procne e Filomela. Tendo havido guerra, por questões de
fronteira, entre Atenas e Tebas, comandada por Lábdaco, Pandíon
solicitou o auxílio do trácio Tereu, graças a cujos préstimos obteve
retumbante vitória. O rei ateniense deu a seu aliado a filha Procne em
casamento e logo o casal teve um filhos, Ítis. Mas o trácio se apaixonou
pela cunhada Filomela e a estuprou. Para que ela não pudesse dizer o
que lhe acontecera, cortou-lhe a língua. A jovem, todavia, bordando numa
tapeçaria o próprio infortúnio, conseguiu transmitir à irmã a violência
de que fora vítima. Procne resolveu castigar o marido: matou o próprio
filho Ítis e serviu-lhe as carnes ao pai. Em seguida, fugiu com a irmã.
Inteirado do crime, Tereu, armado com um machado, saiu em perseguição às
duas irmãs, tendo-as alcançado em Dáulis, na Fócida. As jovens
imploraram o auxílio dos deuses e estes, apiedados, transformaram Procne
em rouxinol e Filomela em Andorinha. Tereu foi metamorfoseado em mocho.
Com
a filha de Cécrops, Aglauro, o deus da guerra teve Alcipe. Tendo Ares
assassinado o filho de Posídon, Halirrótio, que lhe tentara violentar a
filha, foi arrastado por Posídon a um tribunal formado por doze grandes
deuses, que se reuniram numa colina, junto à qual o homicídio fora
cometido, situada em frente à Acrópole de Atenas. Foi absolvido, mas a
colina, a partir de então, passou a chamar-se (Áreios págos), isto é
Areópago, "colina de Ares ou colina do homicídio", uma vez que esse
histórico tribunal ateniense tinha a seu encargo julgar crimes de
sangue.
Movido
por fortes ciúmes, Ares assassinou Adônis, seu rival na preferência de
Afrodite. Os Alóadas, quer dizer, os dois gigantescos e temíveis filhos
de Posídon, Oto e Efialtes, para vingar Adônis encerraram o deus da
guerra num pote de bronze, depois de o terem amarrado. Ali o deixaram
durante treze meses, até que o astucioso Hermes conseguiu libertá-lo num
estado de extrema fraqueza.
Atribuem
a ares muitas aventuras amorosas, dentre as quais a mais séria e
célebre foi a que teve com Afrodite. Seu habitat preferido era a Trácia,
país selvagem, de clima rude, rico em cavalos e percorrido
freqüentemente por populações violentas e guerreiras. A Trácia era
também uma das habitações das terríveis Amazonas, que passavam
igualmente por filhas do amante de Afrodite.
Seu
culto, relativamente pobre em relação aos demais deuses, era sobretudo
parcimonioso em Atenas. Além da Beócia, foi no Peloponeso, por força do
militarismo espartano, que Ares teve mais simpatizantes. Na Lacônia, os
Efebos sacrificavam a Eniálio, havendo em Esparta um templo que lhe era
consagrado. Em Atenas, era venerado num pequeno e modesto santuário, ao
qual estava associada Afrodite. Possuía templos ainda em Trezena e na
ilha de Salamina, consoante Plutarco.
Na
capital da Beócia, Tebas, o "belicoso" possuía realmente um culto
particular, uma vez que era tido como ancestral dos descendentes de
Cadmo. É que este, filho de Agenor e Telefassa, após o rapto da irmã
Europa, se estabeleceu na Trácia com a mãe. Morta esta, Cadmo consultou o
oráculo, que lhe ordenou abandonasse a procura de Europa e fundasse uma
cidade. Para escolher o local, deveria seguir uma vaca até onde La
caísse de cansaço. Cadmo pôs-se a caminho e, tendo atravessado a Fócida,
viu uma vaca, que possuía nos flancos um disco branco, sinal da lua.
Seguiu-a por toda a Beócia e, quando o animal se deitou, compreendeu que
o oráculo se comprira. Mandou os companheiros a uma fonte vizinha,
consagrada a Ares, em busca de água, mas um Dragão, filho do deus, que
guardava a fonte, os matou. Cadmo conseguiu liquidar o monstro e, a
conselho de Atena, semeou-lhes os dentes. Logo surgiram da terra homens
armados e ameaçadores, a que se deu o nome (Spartoí), "os semeados".
Cadmo atirou pedras no meio deles e "os semeados", ignorando quem os
provocara, acusaram-se mutuamente e se mataram. Sobreviveram apenas
cinco: Equíon (que se casou com Agave, filha de Cadmo), Udeu, Ctônio,
Hiperenor e Peloro. A morte do Dragão teve que ser espiada e, durante
oito anos, Cadmo serviu ao deus como escravo. Terminado o "rito
iniciático", Zeus lhe deu como esposa Harmonia, filha de Ares e
Afrodite. Cadmo reinou longos anos em Tebas. De seu casamento com
Harmonia nasceram Ino (Leucotéia), Agava, Sêmele e Polidoro.
Três
coisas nos chamam a atenção no mito de Ares: o pouquíssimo apreço em
que era tido por parte de seus irmãos olímpicos; a pobreza de seu culto
na Hélade e, apesar de ser um deus da guerra, suas constantes derrotas
para imortal, heróis e até para simples mortais.
Pública
e solenemente desprezado pelos próprios pais, era ridicularizado por
seus pares e até pelos poetas, que se regozijavam em chamá-lo, entre
outros epítetos deprimentes, de louco, impetuoso, bebedor de sangue,
flagelo de homens, deus das lágrimas... Epítetos, aliás, que não
condizem muito com as atitudes bélicas de Ares, deus da guerra:
derrotado constantemente por Atena; vencido várias vezes por Héracles;
ferido por Diomedes; aprisionado pelos Alóadas... Era, por fim, um deus
cujos templos na Grécia eram muito poucos, seu culto muito escasso.
Um
deus olímpico, com tais características, convida a uma reflexão. Há os
que solucionam o problema de maneira muito simples: os gregos, desde a
época homérica, se compraziam em mostrar a força cega e bruta de Ares
debelada e burlada pelo vigor mais inteligente de Héracles e sobretudo
pela coragem lúcida, viril e refletida de Atena. A vitória da
inteligência sobre a força bruta refletiria a essência do pensamento
grego, e tudo estaria resolvido.
É verdade que tudo isto está correto, mas não satisfaz inteiramente.
Talvez
se pudesse defender a hipótese de que Ares seja não um deus, mas um
demônio popular, que se encaixou na epopéia, mesmo assim, ou por isso
mesmo, desprezado pelos outros deuses. Talvez se trate, como querem
outros, de um herdeiro pouco afortunado de alguma divindade
pré-helênica, como já se pensou de sua companheira inseparável, Enio.
Sua afinidade com a Trácia e suas ausências constantes do Olimpo, para
atender a seus "trácios fiéis", nos inclinariam a ver no deus da guerra
um estranho mal adaptado à religião grega, em cujo seio seu caráter
sangrento e funesto lhe valeu um sério descrédito.
Assim
como a Erínia, a "devastadora", foi qualificada por Ésquilo de deusa
tão pouco semelhante aos deuses, igualmente Ares, por força de total
ausência, em sua personalidade, de uma característica essencial a um
deus, a virtude da beneficência, foi cognominado pelo escoliasta de
Édipo Rei, de (theòs átheos), de um deus que não é um verdadeiro deus.
Seja
como for, Ares jamais se adaptou ao espírito grego, tornando-se um
antípoda do equilíbrio apolíneo. Realmente um estranho no ninho.
Tipo e atributos de Ares
- Ares (Marte), deus sangüinário e detestado pelos imortais, nunca teve
grande importância entre as populações helênicas. Em numerosas
localidades, parece até haver sido inteiramente desconhecido, e se o seu
culto conservou na Lacônia importância maior que alhures, deve-se à
rudeza dos habitantes de tal país. Foi somente entre os romanos que Ares
adquiriu importância verdadeira e permanente; o tipo de Palas
conformava-se muito mais ao gênio grego. Com efeito, Palas é a
inteligência guerreira, ao passo que Ares nada mais é do que a
personificação da carnificina. Ávido de matar, pouco lhe importa saber
de que lado está a justiça e cuida apenas de tornar mais furiosa a luta.
O
deus da guerra e da violência aparece-nos sempre em atitude de repouso,
e as estátuas antigas jamais o representam lutando. Tem, por vezes,
numa das mãos a Vitória, como Zeus ou Atena. Vemo-lo com tal aspecto
numa famosa estátua da Villa Albani. Uma linda pedra gravada mostra Ares
segurando com uma das mãos a Vitória e com a outra a oliveira, símbolo
da paz proporcionada pela vitória.
A
maioria das vezes usa um capacete e empunha uma lança ou gládio
Aparece, assim, em várias medalhas, mas as estátuas que o representam
isoladamente não são demasiadamente comuns entre os gregos. Entretanto, a
bela estátua do Louvre, conhecida pelo nome de Aquiles Borghese passa
hoje por ser um Ares. Explica-se o elo que usa num dos pés pelo hábito
de certos povos, e notadamente os lacedemônios, de agrilhoarem o deus da
guerra.
Parece
ter sido o escultor Alcameno de Atenas quem fixou o tipo de Ares, tal
qual surge habitualmente nos monumentos artísticos. Os atributos
habituais do deus são o lobo, o escudo e a lança com alguns troféus. Uma
medalha cunhada na época de Septímio Severo nos mostra Ares com uma
lança, um escudo e uma escada para o ataque. Sob tal aspecto, Ares
recebe o epíteto de Teichosipletes (que sacode as muralhas). Em geral,
porém, não tem real importância na arte a não ser pela sua ligação com
Afrodite.
Num
célebre quadro da galeria de Florença, Rubens representou Ares, que
Afrodite e Eros se esforçam inutilmente por reter, e que, de gládio
empunhado, segue a Discórdia precedida do Temor e do Espanto. As Artes
chorosas, a Música, a Arquitetura e a Pintura, são pisadas pelo feroz
deus: o comércio está destruído e os campos prestes a ser incendiados.
Noutro quadro do mesmo pintor, vemos, ao contrário, Ares repelido por
Atena, enquanto a Terra oferece o seio fecundo do qual o leite jorra ao
lado de um grupo de crianças que acorrem a ver uma cornucópia que lhes
oferece Pã, o deus da agricultura.
Ares na guerra dos Gigantes
– Claudiano descreveu o papel de Ares na guerra dos Gigantes. "O deus
impele os seus furiosos corcéis contra a horda formidável e, imprimindo
ao gládio um movimento irresistível, o monstruoso Peloro é atingido no
ponto em que, por um estranho acoplamento, duas serpentes se lhe unem ao
corpo que elas sustentam. Ares vendo-o tombar, faz passar as rodas do
carro sobre o inimigo vencido, e o sangue que jorra desse corpo enorme
avermelha as montanhas vizinhas”.
Entretanto,
Peloro tinha um irmão, o gigante Mimas, que, ocupado em lutar noutra
região, viu Peloro cair. Mimas pensa exclusivamente na vingança e,
curvando-se para o mar, quer dele arrancar a ilha de Lemnos para
atirá-la contra o deus. Ares evita o choque e com um golpe de lança fura
a cabeça de Mimas, cujo cérebro se esparrama à direita e à esquerda.
Ares
foi menos feliz com outros Gigantes. Fôra aprisionado por Oto e
Efialtes que o haviam mantido agrilhoado durante treze meses. O escultor
Flaxman nos mostra o deus da guerra em posição humilhante. “Oto e
Efialtes tinham tentado escalar o céu colocando o monte Ossa sobre o
Olimpo e o Pélion sobre o Ossa. Artemis, para evitar-lhes a perseguição,
viu-se obrigada a transformar-se em corça, e estando a fugir
precipitadamente, os dois irmãos Gigantes, que vinham um em cada
direção, atiraram contra ela, ao mesmo tempo, os seus dardos, e dessa
maneira mataram um ao outro”. (Apolodoro).
Ares e Afrodite -
A aliança entre a guerra e o amor, entre a força e a beleza, é uma
idéia inteiramente conforme ao espírito grego. Apesar de brutalíssimo,
não pôde Ares resistir a Afrodite que o subjuga e domina com um sinal:
da união de Ares e Afrodite nasceu Harmonia. Vários monumentos antigos,
notadamente o famoso grupo do museu de Florença e o do museu Capitolino,
reproduzem essa ligação que também se vê em pedras gravadas.
Os
romanos gostavam de fazer-se representar com suas mulheres, e usando os
atributos de Ares e Afrodite; era uma alusão à coragem do homem e à
beleza da mulher. Aliás, os romanos consideravam Ares e Afrodite autores
da sua raça, e durante a época imperial, dava-se freqüentemente aos
deuses a feição dos imperadores. Assim é que temos no Louvre um grupo,
cuja personagem masculina parece ser Adriano ou Marco Aurélio, e que
representa Ares ao lado de Afrodite. Mas a imperatriz está vestida.
Vários arqueólogos pensam que a Afrodite de Milo estava ao lado da
estátua de Ares. A arte dos últimos séculos ligou igualmente as duas
divindades e, num encantador quadro do Louvre, le Poussin nos mostra o
deus da guerra, esquecido dos seus atributos e do seu papel, sorrindo
para a deusa, enquanto os Eros brincam tranqüilamente com as armas, no
meio de risonha paisagem.
Ares ferido por Diomedes
– Ares, na guerra de Tróia acirrado inimigo dos gregos, foi ferido por
Diomedes e deu um grito semelhante ao clamor de dez mil combatentes numa
furiosa batalha. Subiu ao Olimpo para dar vazão às suas queixas contra o
herói grego e sobretudo contra Atena que dirigira o golpe. "Tens por
tua filha, diz a Zeus, uma indigna fraqueza, porque tu sozinho foste
quem gerou tão funesta divindade. Ei-la agora que excita contra os
deuses o insensato furor de Diomedes. Ousado! Em primeiro lugar feriu
Afrodite na mão, depois atirou-se a mim, e se os meus pés velozes não me
houvessem subtraído à sua cólera, lá teria ficado eu estendido sem
força aos golpes do ferro."
Zeus
acolhe mal as queixas de Ares: "Divindade inconstante, exclama, cessa
de importunar-me com os teus lamentos! De todos os habitantes do Olimpo,
tu és o que eu mais odeio, pois só amas a discórdia, a guerra. a
carnificina. Tens, sem dúvida, o intratável caráter de tua mãe Hera, que
as minhas ordens soberanas mal conseguem domar. Os males que suportas
hoje são o fruto dos seus conselhos. Mas não quero que sofras por mais
tempo, visto que sou teu pai." O rei dos deuses manda, então, que se
cure o filho e um bálsamo salutar lhe acalma as dores, porque os deuses
não podem morrer.
Um
interessante quadro da mocidade de Davi, que obteve o segundo prêmio em
1771, mostra Diomedes no momento em que acaba de lançar contra Ares o
dardo dirigido por Atena. Ares, ferido, está caído. O quadrinho é
valioso, porque nos dá a conhecer Davi numa época em que o jovem artista
não pensava absolutamente na reforma que, posteriormente, introduziu na
pintura, e em que todo o seu talento estava impregnado do estilo
dominante então na escola francesa.
Filomena e Progne
- O caráter feroz das lendas concernentes a Ares mais ainda se exagera,
quando elas se aplicam a seus filhos. Tivera ele de uma ninfa um filho
chamado Tereu, rei da Trácia, que desposou Progne, filha do rei de
Atenas Pandião. Tinha este outra filha chamada Filomela. Progne exprimiu
ao marido o desejo de rever a irmã da qual se achava separada havia
cinco anos. Tereu foi, então, a Atenas procurar Filomela, mas no caminho
abusou dela, e, após lhe arrancar a língua para obrigá-la ao silêncio,
encerrou-a numa torre. Disse, em seguida, a Progne que sua irmã morrera ;
mas Filomela, do fundo da masmorra, descobriu um modo de mandar à irmã,
num pedaço de tela, a narração das suas aventuras.
Progne,
com o auxílio das festas de Baco, conseguiu libertar Filomela, e
ocultou-a num canto do palácio. Juntas, meditam clamorosa vingança.
Tereu tinha um filho muito moço, chamado Ítis ; chamam-no, matam-no, e
cozem-lhe os membros que, de noite, Progne oferece ao marido. Tereu
pergunta porque o filho não está à mesa, mas só quando termina o repasto
é que Filomela, saindo subitamente do esconderijo, lhe anuncia que
comeu a carne do próprio filho e, ao mesmo tempo, para que ele não
duvide do que lhe afirma, lhe atira ao rosto a cabeça do infeliz rapaz.
Tereu, não se contendo, quer levantar-se para estrangular as duas irmãs,
mas os deuses, desejosos de pôr cobro a tão horrível família,
metamorfoseiam Progne em andorinha, Filomela em rouxinol, Ítis em
pintassilgo e Tereu em pomba. A bárbara história ministrou a Rubens tema
para um quadro que está na Espanha ; vemos Progne e Filomena mostrando a
Tereu a cabeça do filho, cuja carne ele acaba de comer.
Os sacerdotes sálios
- O culto de Ares tinha grande importância em Roma, onde era conhecido
como Marte. O culto era exercido pelos sacerdotes sálios, instituídos
para guardarem os ancilos. Os ancilos tinham sido feitos em Roma sobre o
modelo de um escudo caído do céu, durante uma peste que dizimava a
cidade, e eram considerados o palácio romano. Durante certas festas os
sacerdotes sálios percorriam a cidade levando a passeio os ancilos cuja
forma nos foi conservada num denário de prata cunhado sob Augusto. O
barrete que está no meio é o ápex do flâmine.
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Referência Bibliográfica
BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia Grega Vol. II. Petrópolis, Vozes, 2004.
MÉNARD, Réne. Mitologia Greco-Romana Vol. II. Opus, São Paulo, 1991.
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