Aristeu
Era
adorado como o protetor dos caçadores, pastores e rebanhos, e como o inventor
da apicultura e da arte de cultivar azeitonas. Era largamente venerado como um
deus beneficente e freqüentemente era representado como um pastor juvenil
carregando um cordeiro.
Filho de Apolo — o deus do Sol e da luz — e da ninfa Cirene. Ao nascer, foi confiado por seu pai à Terra e às Horas, ou, conforme outra versão, ao centauro Quirão e às Ninfas.
Estas teriam lhe ensinado a arte de coalhar leite, cultivar as
oliveiras e criar abelhas. São-lhe atribuídas várias invenções ligadas à
caça, principalmente as covas e as redes.
Casou-se com Autônoe, filha de Cadmo, e dela teve Acteão. Perseguia as Ninfas e as Dríades, principalmente Eurídice, por quem estava apaixonado. Fugindo do seu assédio, Eurídice morreu. Os deuses, encolerizados, mataram todas as suas abelhas. O adivinho Proteu lhe recomendou sacrificar, em memória de Eurídice,
quatro touros e quatro bezerras. Nove dias após o sacrifício, viu
saírem das entranhas dos animais milhares de abelhas. Foi colocado entre
as divindades agrestes em diversas regiões da Grécia.
Referências
CIRENE —
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Ninfa da Tessália, filha do rei dos lápitas, Hipseu. Levava vida selvagem nas florestas de Pindo, protegendo os rebanhos de seu pai contras as feras. Apolo a viu lutar contra um leão e, encantado com sua bravura, a raptou. Levou-a para a Líbia, onde lhe deu como domínio o reino de Cirene. De sua união com o deus do Sol e da luz, teve Aristeu. Segundo outra versão, Eurípilo, rei da Líbia, é quem lhe teria dado o reino, como prêmio por ter abatido um leão que devastava a região.
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CADMO —
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Filho de Aristeu e Autônoe. Educado pelo centauro Quirão, tornou-se hábil na arte da caça. Numa de suas caçadas, foi ter ao vale Gargáfia, na Beócia, onde surpreendeu Artémis (Diana
para os romanos) — deusa das florestas — banhando-se numa fonte.
Irritada com a intromissão, a deusa o transformou num cervo, que foi
despedaçado pelo seu próprio grupo.
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DRÍADES —
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Ninfas
dos bosques. Tinham como função velar pelas árvores, que só podiam ser
abatidas quando não mais contassem com sua proteção. Embora ligadas às
árvores, não viviam reclusas. Podiam vaguear em liberdade e mesmo casar,
como se deu com Eurídice, que esposou Orfeu. Eram
representadas sob a figura de uma robusta mulher, cujo corpo terminava
por uma imitação de tronco e raízes de árvore. Sua crença parece ter se
desenvolvido principalmente na Arcádia.
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Aristeu,
o apicultor, caminhava um dia às margens de um rio, em um local longe
de suas terras, quando se admirou com a produção de mel:
-
Impressionante como nesta floresta as abelhas produzem abundantemente o
seu néctar! - disse, olhando admirado para o mel que transbordava
generosamente da cavidade de uma árvore tombada. - Sem dúvida, as ninfas
dos bosques devem protegê-las.
O jovem
apicultor raspou com sua faca um pouco do líquido dourado que parecia
brotar da própria madeira. Parecia ouro puro e liquefeito!
-
Enquanto as minhas abelhas pereceram todas por força de alguma maldição
divina, estas daqui parecem ter o dom da imortalidade! - disse Aristeu,
desapontado. - Aí estão a voar ilesas, apesar da tormenta e do raio que
lhes derrubou a árvore ainda esta madrugada.
O
apicultor estava mergulhado neste desgosto desde que suas abelhas haviam
morrido sem motivo aparente. Um belo dia simplesmente haviam amanhecido
todas mortas, diante dos favos.
Aristeu
sentou-se sobre a relva, desacorçoado; com sua faca retirou um pouco do
mel, que escorria grosso e cristalino feito uma corda do próprio sol, e
pôs-se a lambê-lo na beira do rio.
O
apicultor era filho da ninfa Cirene, que por haver domado sozinha os
leões selvagens que atacavam o rebanho de seu pai, Hipseu, rei dos
Lápitas, ganhara o amor do deus Apolo.
Desta
união surgira Aristeu. Cirene estava sentada em seu palácio no fundo do
rio, rindo gostosamente das estórias que as ninfas contavam, enquanto
brincavam e mergulhavam à sua volta. De repente uma das ninfas surgiu
apressada.
-
Cirene, o seu belo filho está lá em cima! - disse ela. - Está a se
lastimar, prostrado às margens, e mais parece um Narciso que tivesse
visto sua imagem deformada no espelho das águas.
- Traga-o já até mim! - ordenou a mãe de Aristeu.
As águas
imediatamente se abriram, como se duas mãos invisíveis tivessem
apartado em dois o curso da água, e o jovem passou por entre as
liquefeitas cortinas até chegar à região onde ficam as nascentes do
grande rio, que depois se separam para correr em várias direções.
-
Finalmente você faz uma visita à sua mãe, meu querido! - disse Cirene,
alegre, a receber o seu filho. - Que boas novas me traz?
- Oh,
minha mãe, ando muito desanimado! - disse Aristeu, de cabeça baixa. -
Você mais que ninguém sabe do esforço e prazer que sempre dediquei às
minhas abelhas. Sempre as preferi aos rebanhos, à caça e à agricultura.
Levantava ao raiar do dia para acompanhar suas entradas e saídas dos
favos e seus vôos para libar o néctar das flores, plantadas por minhas
próprias mãos, e falava-lhes como se falasse com meus próprios filhos.
Elas, por sua vez, me retribuíam com seu dourado e perfumado mel, que me
proporcionavam com tal abundância que me trouxeram a fama de ser o mais
hábil apicultor de que já se teve memória. De repente, minha mãe, da
manhã para a noite elas me foram arrebatadas dos dedos como a areia sob o
golpe de um vendaval! O trabalho de uma vida inteira foi-se por água
abaixo, e você, minha mãe, nada fez para me poupar desse golpe do
destino.
- Em
nome de Posídon, senhor do tridente! Só pode ser praga das ninfas das
florestas, meu filho! Dê-se por satisfeito de que não fizeram as abelhas
voltar os seus esporões contra você ou produzirem um mel envenenado.
- Por que diz tudo isto, minha mãe?
- Ora, elas vingam ainda o infortúnio de Eurídice!
Aristeu parecia não entender; aquele era um fato tão distante!
- Além
do mais eu não tive culpa alguma de sua morte - defendeu-se o apicultor.
-Eu apenas a perseguia, cego pela paixão, quando ela desastradamente
pisou sobre uma cobra, que a picou no mesmo instante. Ah, Eurídice!
Sempre você, mesmo depois de morta? Não basta ter arrebatado minha alma,
minha vontade, meu orgulho, enquanto era viva?
- Meu
filho, esqueça Eurídice, ela está morta - disse Cirene, impositiva. -
Sei, no entanto, de uma maneira para recuperar a sua criação de abelhas.
- Uma maneira? - exclamou Aristeu, ganhando alma nova.
- Você conhece, por certo, Proteu, o velho deus do mar.
- Claro, minha mãe. Ele apascenta o rebanho de focas e os grandes peixes de seu pai Posídon, não é isto?
-
Exatamente. Nós, as ninfas dos rios, temos por este sábio deus uma
imensa consideração e respeito, eis que ele conhece todas as coisas
passadas, presentes e futuras.
Cirene interrompeu-se ao ver que as ninfas haviam trazido uma deliciosa refeição para os dois saborearem, à base de... mel!
- Comamos um pouco, meu querido.
-
Continue falando, minha mãe, quero saber logo o que Proteu tem a me
dizer - pediu Aristeu, olhando de soslaio para toda aquela abundância de
mel, que se espalhava farto em todos seus tons dourados e consistentes.
- Como
eu ia dizendo, meu filho, somente o divino Proteu poderá explicar a
razão pela qual morreram as suas abelhas e como você pode fazer para que
isso não volte a acontecer. Foi este mesmo deus, aliás, que indicou a
Menelau, rei de Esparta, o caminho para casa quando este esteve perdido
nos mares do Egito com sua Helena recém-resgatada das mãos dos pérfidos
troianos. Entretanto, Proteu jamais o ajudará por livre e espontânea
vontade, por mais que você implore. Por isso, precisará obrigá-lo a
falar pela força.
- Obrigar um deus pela força? Como posso obrigar um deus a fazer o que quero?
- Calma,
meu querido, na verdade é tudo muito simples: quando ele estiver
dormindo seu breve sono do meio-dia, você aproveitará para agarrá-lo e
acorrentá-lo com firmeza. Quando ele se sentir irremediavelmente
aprisionado, recorrerá ao poder que possui de transformar-se
repentinamente nas mais terríveis e amedrontadoras criaturas ou, então,
produzirá um ruído semelhante ao crepitar das chamas ou ao barulho da
água corrente. Mas você deverá ignorá-los e se preocupar apenas em
mantê-lo bem preso ao longo de todas estas transformações. Quando ele
perceber finalmente que todos os seus artifícios foram inúteis, voltará à
sua antiga forma e estará pronto a responder a todas perguntas, a troco
apenas da sua liberdade. Fique tranqüilo, meu filho: vai dar tudo
certo.
Cirene
ergueu-se, então, e conduziu o filho até a gruta de Proteu, localizada
na ilha de Cárpatos, e escondeu-o entre as falhas dos rochedos.
Ao
meio-dia, a hora em que o deus saía das águas para buscar repouso junto
às sombras das grutas, Proteu saiu da água, deixando espalhado ao largo
da praia o seu imenso rebanho de focas, e refugiou-se sob a sombra
amena, no chão da gruta, adormecendo. Sem perda de tempo, Aristeu correu
e o agarrou, acorrentando-o imediatamente.
- Perdão, divino Proteu, mas preciso da sua ajuda! - disse Aristeu, agarrado com toda força ao corpo do deus marinho.
Proteu,
ao ver-se irremediavelmente preso, resolveu recorrer às suas artes,
transformando-se primeiro num leopardo, depois num javali, depois numa
leoa, e assim sucessivamente, mas sempre sem sucesso. Vendo, porém, a
inutilidade de seus esforços, recuperou sua própria forma e disse,
impaciente, ao apicultor:
- Diga de uma vez a que veio, jovem inoportuno!
- Você é
profeta, sabe muito bem o que quero. Sabe também que vim sob à proteção
dos deuses para descobrir a causa de minhas desgraças.
O deus marinho arregalou os olhos aquosos e penetrantes e disse:
- A
causa dos seus infortúnios você já sabe! Por ter provocado a morte de
Eurídice, recebe a justa punição das ninfas Dríades, companheiras de
Eurídice, que lançaram a destruição às suas abelhas. Terá agora que
apaziguar o ódio delas, o que não é pouca coisa. E se continuar a me
apertar deste jeito, ganhará logo também a minha inimizade.
- E o
que devo fazer para evitar outra calamidade parecida? - perguntou
Aristeu mais calmo, mas sem jamais afrouxar as correntes.
- Você
deve sacrificar aos deuses quatro belíssimos touros e deixar as suas
carcaças apodrecerem no local do sacrifício. Nove dias depois voltará
para examinar as carcaças e verá, então, o que aconteceu. A Orfeu e
Eurídice você deverá render honras fúnebres suficientes para acalmar a
ira deles.
Aristeu
fez exatamente o que Proteu lhe havia prescrito e, voltando, ao nono
dia, examinou as carcaças dos animais abatidos. Dentro delas escutou o
zumbido querido das suas abelhas - sim, eram elas outra vez! -, como se
mil demoniozinhos estivessem a conspirar dentro das ossadas.
- Oh,
que maravilha! As abelhas brotaram das entranhas dos animais e ali estão
a trabalhar como numa colméia! - exclamou o apicultor, feliz da vida.
De
dentro da carcaça retirou, então, com a própria mão, um punhado de mel
da cor do âmbar, que ofereceu à sua mãe, Cirene, e a Proteu, o deus das
mutações.
Asclépio
Deus
greco-romano da medicina, com o poder de curar os enfermos. Era também patrono
dos médicos e era representado como um homem barbudo, de olhar sereno, com o
ombro direito descoberto e o braço esquerdo apoiado em um bastão, o caduceu, em
volta do qual se enroscam duas serpentes, e que se transformou no símbolo da
medicina.
Poucos mitos podem ser acompanhados, em sua gênese e evolução, tão de perto como o de Asclépio (gr. Ἀσκλήπιος), deus grego da Medicina. O autor da Ilíada menciona que os dois médicos aqueus que foram a Tróia eram filhos do tessaliano Asclépio. Hesíodo, que escreveu suas obras mais ou menos cinquenta anos mais tarde, considera Asclépio filho de Apolo e há, finalmente, evidências arqueológicas de que ele já era cultuado no Peloponeso por volta de por volta de -500.
Píndaro, na III Pítica, relata a lenda de seu nascimento. Coronis, filha do lápita Flégias e irmã de Íxion, foi amada por Apolo e esperava um filho dele. Antes de dar à luz, no entanto, teve uma aventura com Ísquis, um simples mortal. Apolo encolerizou-se ao saber da traição e pediu à irmã, Ártemis, que matasse a amante infiel com uma flecha. Apiedou-se, no entanto, da criança, e retirou-a do ventre da mãe antes que as chamas da pira funerária a consumissem. O menino, Asclépio, foi então levado ao centauro Quíron para ser educado.
Asclépio aprendeu rapidamente a medicina e tornou-se capaz de curar praticamente todas as doenças e traumas. Depois de algum tempo começou a ressuscitar os mortos, e aí Hades foi se queixar a Zeus, pois seu reino estava ficando vazio. Para que a ordem natural das coisas não fosse conturbada, Zeus fulminou Asclépio com um raio, mas em reconhecimento de seus méritos recebeu-o entre as divindades.
Com o tempo, a lenda de Asclépio tornou-se popular e enriqueceu. Além de Podalírio e Macaon, já citados na Ilíada, a ele eram atribuídas várias filhas, que o auxiliavam em sua atividade curadora: Acesó e Iasó, a cura; Panacéia, a cura universal; e Hígia, a saúde.
Culto
Asclépio era cultuado em muitos lugares, e muitos de seus templos estavam associados à cura de doenças (ver a sinopse "Templos da cura").
Dionísio
Deus do
vinho e da vegetação, que mostrou aos mortais como cultivar as videiras e fazer
vinho.
Dioniso,
Diónisos ou Dionísio (do grego Διώνυσος ou Διόνυσος) era o deus
grego equivalente ao deus romano Baco, das festas, do vinho, do
lazer e do prazer. Filho de Zeus e da princesa Semele, foi o único deus
filho de uma mortal.
Ocorreu que Hera,
que sentiu ciúme de mais uma traição de Zeus, instigou Semele a pedir ao
seu amante (caso ele fosse o verdadeiro Zeus) que viesse ter com ela
vestido em todo seu esplendor, em outras versões lhe pediu que a
mostrasse sua verdadeira forma. Semele então pediu que Zeus
atendesse a um pedido seu, sem saber qual seria, em algumas versões, ela
o fez fazer uma promessa pelo Estige, o voto mais sagrado, que nem mesmo
os deuses podem quebrar. Ele concordou e quando soube do que se tratava
imediatamente se arrependeu.
Uma vez concedido o
pedido teria que cumpri-lo. Ele então voltou ao Olimpo e colocou suas
vestes maravilhosas (ou demonstrou sua verdadeira forma), já sabendo de
o que ocorreria. De fato, o corpo mortal de Semele não foi capaz
de suportar todo aquele esplendor, e ela virou cinzas.
Assim, Dionisio
passou parte de sua gestação na coxa de seu pai. Quando completou o
tempo da gestação, Zeus o entregou em segredo a Ino (sua tia) que passou
a cuidar da criança com ajuda das Dríades, das horas e das ninfas.
Depois de adulto,
ainda a raiva de Hera tornou Dionísio louco e ele ficou vagando
por várias partes da Terra. Quando passou pela Frígia, a deusa
Cíbele o curou e o instruiu em seus ritos religiosos.
Sileno ensina a ele a
cultura da vinha, a poda dos galhos e o fabrico do vinho.
Curado, ele atravessa
a Ásia ensinando a cultura da uva. Ele foi o primeiro a plantar e
cultivar as parreiras, assim o povo passou a cultuá-lo como deus do
vinho.
Dionisio puniu quem
quis se opor a ele (como Penteu) e triunfou sobre seus inimigos além de
se salvar dos perigos que Hera estava sempre pondo em seu caminho.
Nas lendas romanas,
Dioniso tornou-se Baco, que se transforma em leão para lutar e devorar
os gigantes que escalavam o céu e depois foi considerado por Zeus como o
mais poderoso dos deuses.
É geralmente
representado sob a forma de um jovem imberbe, risonho e festivo, de
longa cabeleira loira e flutuante, tendo, em uma das mãos, um cacho de
uvas ou uma taça, e, na outra, um tirso (um dardo) enfeitado de
folhagens e fitas. Tem o corpo coberto com um manto de pele de leão ou
de leopardo, traz na cabeça uma coroa de pâmpanos, e dirige um carro
tirado por leões.
Também pode ser
representado sentado sobre um tonel, com uma taça na mão, a transbordar
de vinho generoso, onde ele absorve a embriaguez que o torna
cambaleante. Eram-lhe consagrados: a pega, o bode e a lebre.
Às mulheres que o
seguiam como loucas, bêbadas e desvairadas se dava o nome de bacantes.
É considerado também
o deus protetor do teatro. Em sua honra faziam-se ditirambos na Grécia
Antiga e festas dionisíacas.
Segundo o mito,
Dionísio ordenou a seus súditos que lhe trouxesse uma bebida que o
alegrasse e envolvesse todos os sentidos. Trouxeram-lhe néctares
diversos, mas Dionísio não se sentiu satisfeito até que ofereceram o
vinho.
O deus encheu-se de
encanto ao ver a bebida, suas cores, nuances e forma como brilhava ao
Sol, ao mesmo tempo em que sentia o aroma frutado que exalava dos jarros
à sua frente. Quando a bebida tocou seus lábios, sentiu a maciez do
corpo do vinho e percebeu seu sabor único, suave e embriagador.
De tão alegre,
Dionísio fez com que todos os presentes brindassem com suas taças, e ao
som do brinde pôde ser ouvido por todos os campos daquela região. A
parti daí, Dionísio passou a abençoar e a proteger todo aquele que
produzisse bebida tão divinal, sendo adorado como deus do vinho e da
alegria.